Andréia Dalton

Andréia Dalton

Fui atriz por muitos anos mas acredito que a vida é um grande filme (espero que o meu seja uma comédia romântica) e todos somos atores da nossa história! Busco me aceitar como sou, contanto que eu esteja dentro de um padrão, quero pertencer as maiorias, mas afinal de contas, quem não quer?

Texto cedido por Andréia Dalton

Eu sou o Cairo?

Texto do livro "Eu sou o Cairo?" de Andréia Dalton Lucas.

Era uma vez uma princesa muito bonita que vivia em um reino muito distante e lindo, ela tinha muitas amigas e todos os dias iam para a escola juntas...

Gostaria que essa fosse a minha história, mas não é, meu nome é Cairo tenho 9 anos, moro em uma cidade normal como qualquer outra, que poderia até ser a sua, estudo em uma escola que poderia ser a sua, enfim, sou uma criança normal como o seu vizinho, seu amigo, seu primo ou até mesmo igual a você.

Mas mesmo assim ainda me sinto muito diferente.

Na época que minha mãe engravidou ela queria um menino, meu pai também, ela é enfermeira e meu pai policial, quando eu nasci eles ficaram muito felizes. Quando cheguei em casa, meu quarto estava todo prontinho para me receber o tema era de selva tinham muitos leões, girafas e elefantes, tenho esse papel de parede até hoje.

Para o meu primeiro aninho meu pais fizeram uma festa num buffet, não me lembro, mas as fotos ficaram lindas, todos estávamos muito felizes. Meus outros aniversários foram ficando cada vez menos felizes para mim, meus pais escolhiam um tema e eu sempre queria outro, nunca escolhíamos o mesmo. E os presentes então, nem se fala, desde os meus 3 anos que não ganho o que quero, imagine que você espera o ano inteiro para poder pedir algo, qualquer coisa que você queira, e nunca ganha o que pede, é triste.

Tenho uma amiga, a Amora, ela é minha melhor amiga, nos conhecemos desde que nascemos, nossas mães são amigas, moramos no mesmo prédio e brincamos desde pequenos. A Amora adora brincar de carrinhos e eu também mas a nossa brincadeira preferida é brincar de casinha, eu sou o pai que fica com as crianças enquanto a mãe sai para trabalhar, quando ela volta do trabalho o jantar está pronto, as crianças dormindo, e casa arrumada.

A Amora sempre me entende, nas nossas brincadeiras, ela nunca briga comigo, mesmo quando eu peço para ela para calçar suas sapatilhas de glitter.

— Amora, posso calçar suas sapatilhas?

— Por que você sempre me pede as minhas sapatilhas?

— Perguntou Amora mesmo já sabendo a resposta.

— Eu gosto da cor e dos brilhos, os sapatos que minha mãe compra para mim não tem brilho e nem são cor de rosa.

— Cairo, não existem sapatos de meninos cor de rosa e nem com glitter, é por isso que sua mãe não compra para você.

— Eu sei já pedi várias vezes para ela mas ela nunca compra, são sempre os mesmos, de superheróis, não que eu não goste dos de superheróis, mas queria um sapato cor de rosa.

— Então vamos fazer uma coisa, eu tenho uma sapatilha lá em casa parecida com essa, vamos brincar lá ai podemos calçar as sapatilhas.

Nós subimos para casa da Amora junto com a mãe dela que nos perguntou o que estávamos aprontando porque estávamos com carinhas desconfiadas, eu estava me sentido muito feliz, eu iria ficar igual a Amora.

Quando entramos no quarto dela ela foi logo pegando as sapatilhas, que eu imediatamente calcei, elas ficaram um pouco apertadas, mas diferente dos sapatos da minha mãe, que eu sempre calço para brincar, esses me serviam, eles brilhavam muito e eu fiquei hipnotizado, nunca havia calçado algo tão incrível, algo que combinasse tanto comigo, mesmo apertadas parecia que elas haviam sido feitas para mim, eram muito bonitas, dancei e cantei no quarto da minha amiga, ela ria e eu também, eu estava muito feliz.

— Amora, queria que você me emprestasse sua saia de balé.

— Para quê, Cairo?

— Quero vesti-las para ver como ficam com essas sapatilhas.

— Tá bom.

Minha amiga me deu a saia e vesti por cima dos shorts mesmo, eu estava com uma sensação esquisita no estômago parecia que algumas borboletas estavam presas lá dentro e queriam sair de qualquer jeito, me olhei no espelho atrás da porta, era uma sensação muito boa, mas ao mesmo tempo eu tinha a impressão que era errado, será que era certo eu me sentir tão certo usando saia e sapatilha? Ao mesmo tempo que me sentia bem eu tinha medo, medo de não querer tirar mais essas roupas medo de gostar demais desta sensação, medo de me sentir assim tão bem nas roupas da Amora.

— Amora, o que você achou, fiquei bonito?

— Lindo, adorei, você fica bonito de rosa, mas não pode sair assim na rua.

— Não? Por quê?

— Claro que não, Cairo, você é menino, meninos não usam saias, podem até usar cor de rosa, meu pai tem uma camiseta rosa e ele é menino, mas saia, sei que ele não tem, e nunca vi homem nenhum usando saia.

— Eu também não.

— Então, tira isso, se minha mãe vir você usando isso vai ficar brava e vai contar para a sua mãe.

Naquela tarde fria de sábado eu fui para a minha casa, eu já não era mais a mesma criança, eu havia descoberto algo, mas ainda não tinha noção do que era.

Na semana seguinte, minha mãe foi visitar uma amiga que estava doente e eu fui com ela, a amiga estava careca e muito pálida, fiquei muito triste e senti vontade de chorar, pedi para ir ao banheiro, a amiga da mamãe me explicou o caminho, a casa dela era muito bonita.

Encontrei o banheiro e quando eu entrei vi uma coisa muito linda em cima da pia, uma peruca com um corte Chanel preto, fiquei olhando-a por um tempo, nunca havia visto uma peruca antes, não uma assim de verdade, só aquelas de palhaços coloridas, mas essa era diferente, passei a mão era macia, mais até que o cabelo das bonecas da Amora, tirei do busto que ela estava e coloquei na minha cabeça, arrumei e peguei uma cadeira de plástico que estava dentro do box, subi e me olhei no espelho, a mágica aconteceu novamente, me senti muito bonito, o contraste dos fios pretos com a minha pele branca foi incrível, me senti muito especial ,e senti CERTO, aquilo era o correto meus cabelos serem longos, nunca mais vou deixar a mamãe me levar ao salão para cortar quero um cabelo como esse da peruca, como se eu fosse famoso ou algo assim fiquei parecido com a mulher de um filme que a mamãe estava assistindo outro dia e me disse ser sobre a rainha do Egito, e perguntei para a minha professora que disse se tratar da Cleópatra, fiquei igual a ela.

— Cairo, Cairo, cadê você meu filho, vamos?

Não deu tempo para nada minha mãe já foi entrando no banheiro e me pegou descendo da cadeira e com a peruca na cabeça.

— O que você estava fazendo? Deixe isso onde você encontrou.

— Tá bom, mãe, me desculpa.

— Vamos embora.

No caminho para casa minha mãe não conversou comigo, não falou nadinha.

Uma semana se passou desde o episódio da peruca e minha mãe não falou nada sobre o que aconteceu.

Precisávamos ir ao shopping comprar um presente para o meu primo que faria aniversário no próximo sábado, minha mãe gostava de dar roupas de presente, eu e qualquer criança do mundo odiávamos ganhar roupa, mas minha mãe diz que roupa é mais útil.

Entramos em uma loja de departamento que ela já estava acostumada a comprar.

— Filho, vou comprar uma camiseta para seu primo e uma roupa nova para você usar na festinha.

— Tá bom, mãe, e para você não vai comprar nada?

- Hahaha, claro que vou, não resisto.

Depois de quarenta minutos, estávamos na fila, cheios de roupas e acessórios para passar no caixa.

- A senhora tem o cartão da loja? — A moça do caixa perguntou para minha mãe.

— Tenho, mas não vou pagar com ele não.

— Se a senhora usar o cartão da loja a criança pode escolher um daqueles brindes que estão ali. A moça apontou um banner enorme atrás dela que mostrava os brindes.

— Mãe, eu quero um brinde.

— Ai, filho, jura mesmo?

— Sim, mãe, eu quero muito.

— Tá bom, moça, passa no cartão da loja mesmo.

— Ei, mocinho, qual brinde você vai querer? A moça do caixa me perguntou.

— A coroa de princesa cor de rosa que pisca.

— Mas esse é de menina, você não prefere uma espada, um martelo ou o carrinho?

— Não, eu quero a coroa.

— Ah, entendi é para a sua namoradinha? Perguntou a caixa da loja.

— Não, é para mim mesmo.

A fila atrás de nós já estava bem grandinha e minha mãe já estava bem irritada.

— Moça, ele vai levar esse mesmo.

Minha mãe pegou a coroa enfiou na bolsa dela, eu disse que estava com fome, paramos na praça de alimentação e comemos em silêncio.

No carro, depois que minha mãe entrou, perguntei porque ela estava tão quieta.

— Mãe, você está brava?

— Não.

— Então porque você não quer falar?

— Estou com alguns problemas, Cairo, coisa de gente grande.

— Mãe, liga naquela música que eu gosto?

— Não, estou com dor de cabeça.

Seguimos até nossa casa e minha mãe continuava muda.

Fui para o meu quarto e o telefone estava tocando, entrei no meu quarto mas fiquei ouvindo minha mãe falar ao telefone, era a minha vó, mãe da minha mãe, e elas falavam sobre amenidades, de repente minha mãe começou a falar mais baixo e eu fui até perto da sala para poder escutar a conversa das duas sem que minha mãe visse.

— É, mãe, ele quis a coroa.

— Eu sei, eu sei, mas não está passando, já faz muito tempo.

— Então, estávamos na casa daquela minha amiga que está doente...

E minha mãe contou a história da peruca, voltei para o meu quarto, não imaginei que minha mãe poderia ficar preocupada com essas histórias, gostar de “coisas de meninas” não era problema para mim, eu sempre que queria algum “brinquedo de menina” eu brincava com os da Amora, que assim como eu, nunca entendeu muito bem essa questão de brinquedos de meninos e meninas, nós somos crianças gostamos de brincar, não deveria ser brinquedo de criança, criança é criança. Até porque os brinquedos das meninas são bem mais legais, as roupas também e elas podem usar mais coisas que os meninos, elas podem usar bolsa, anel, maquiagem e os meninos não. Não gosto de ser menino, não quero ser menino, eu não sou um menino, não deveria ser certo um menino gostar das coisas que eu gosto, ou deveria, não sei.

Na segunda feira quando minha mãe foi buscar a Amora e eu na escola estávamos bem felizes, pois tínhamos que fazer um trabalho em dupla.

— Mãe posso ir direto para a casa da Amora?

— Filho primeiro vamos almoçar e depois vamos na casa da Amora, eu também vou lá, preciso falar com a mãe dela.

A mãe da Amora é psicóloga, não sei muito bem como funciona essa profissão, mas sei que ela ouve as pessoas e dá conselho á elas, deve ser bacana.

Depois que almoçamos fomos para a casa da Amora, minha mãe ficou na cozinha com a mãe dela e fui para o quarto, quando entrei ela estava abrindo uma caixa enorme que estava no meio do quarto.

— Nossa quem te deu isso?

— Meu pai mandou do Japão.

O pai da Amora estava trabalhando no Japão já fazia um bom tempo, ele sempre mandava umas caixas cheias de presentes para ela e para a mãe dela.

— Deixa eu ver o que tem aí.

— Muita coisa legal, Cairo, olha esse doce, é muito bom...

— Nossa é verdade, ele mandou da outra vez também lembra?

— Lembro, comemos em 2 segundos.

— É verdade, eu até falei para ele que você gostou, e olha ele mandou uns doces para você também.

O pai da Amora também havia estudado na mesma Universidade que a minha mãe e a mãe dela.

— "Para Cairo com carinho, do Tio Jair, não vá comer tudo de uma vez!", que legal Amora, obrigado. Eu e ela estávamos nos entupindo de doces, e minha mãe entrou no quarto.

Gente que bagunça é essa aqui, vocês não tem um trabalho para fazer?

— Ai, tia, é que meu pai mandou vários doces diferentes e estamos provando.

— Sei, Dona Amora, mas vê se não vão comer demais.

— Tá bom, tia.

— Tá bom, mãe.

— Mãe, não dá para nós começarmos agora o trabalho porque eu esqueci minha mochila lá em casa, já já vou buscar.

— Mas não demora, tá, filho?

— Tá bom, mãe.

— Olha só, Cairo, isso...

Minha mãe saiu do quarto e eu e a Amora continuamos tirando coisas da caixa.

— Cairo, olha só essa bolsinha, que fofa, e combina com essas sapatilhas e com o vestido. Nossa amei.

— Cairo, você está me ouvindo? Cairo, planeta Terra chamando, planeta terra chamando...

— Oi, que foi?

— Você está com essa cara de peixe morto.

— Não é nada é que essa coisas que seu pai te mandou são tão lindas, nunca vi nada igual, posso experimentar?

— Cairo, mas e se sua mãe vir?

— Ela já deve ter ido embora.

— Ai, Cairo, não sei não.

— Por favor... Sim?!

— Tá bom, mas vai logo.

— Tá.

Vesti toda a roupa que o pai da Amora mandou para ela, era tudo tão lindo e diferente, a bolsa era linda bem pequenininha, o vestido ficou um pouco apertado, mas serviu mesmo assim, só as sapatilhas que quase não entraram, mas eram lindas.

— Como fiquei?

— Olha só, e não é que você ficou bonito, sei lá parece que combinou com você.

— Eu amei, deixa eu me ver no espelho.

— Atrás da porta.

Eu estava muito feliz, e quando me vi no espelho aquela sensação voltou! Era como se eu estivesse vestido de mim mesmo, era eu, estava certo e eu queria me vestir assim mais vezes. Neste meio tempo em que eu estava vestido com as coisas da Amora, minha mãe entrou no quarto, foi tudo muito rápido, eu nem percebi direito, quando vi, ela já estava dentro do quarto me falando para tirar aquelas roupas. Fomos para a casa e ela não falou nada, aquele mesmo dia quando o meu pai chegou eu ouvi eles conversando até eu adormecer.

No dia seguinte meus pais me acordaram e tivemos uma conversa bem séria.

— Filho, vamos lá para sala vamos conversar, seu pai, você e eu.

— O que aconteceu mãe, está tudo bem?

— Está, sim, filho, só que nós precisamos conversar com você, para esclarecermos umas coisas de uma vez por todas.

-Vou escovar os dentes e estou indo.

Eu fiquei preocupado, mas no fundo eu sabia o que eles estavam querendo conversar.

— Mãe e pai, podem falar.

— Filho, o que temos para falar com você é muito sério e você precisa ser bem sincero conosco.

— Tudo bem, gente.

— Filho, nós te amamos e vamos continuar te amando independente do que conversarmos.

— Cairo, você sabe que eu não sou de falar muito mas, eu te amo, e sua mãe e eu nem dormimos, conversamos a noite toda e chegamos a algumas conclusões, mas antes de tudo queremos ouvir o que você tem a dizer.

— Podem parar de rodeios e falem.

— Sim, desde que você era bem pequeno, seu pai e eu percebemos que você gostava mais de brincar com os brinquedos da Amora do que com os seus, que você preferia brincar com as minhas roupas, você me pedia para pintar as suas unhas como eu pintava as minhas.

— Sim, mãe, eu me lembro de tudo isso.

— Então, e de um tempo para cá, algumas coisas vem acontecendo, filho você tem algo para nos dizer?

— Já que vocês perguntaram, tenho sim, vocês já vem me observando então será mais fácil, eu acho que nasci com o corpo errado, tenho corpo de menino mas penso como uma menina, sinto como uma menina e tenho gosto de menina, quero me vestir como elas, ser como elas e viver como elas, sinto que estou errado que vim com o corpo trocado, isso é possível mãe?

— Filho, eu não sei não, mas você não está errado não, você é uma criança maravilhosa e se você se sente assim eu e seu pai já havíamos percebido que você não se sentia confortável sendo menino.

— É exatamente assim que me sinto mãe, nasci menino mas me sinto uma menina, isso é normal, isso é possível?

— Filho, eu venho conversando com a mãe da Amora, exatamente sobre isso e ela me disse que existe sim e tem até nome para isso, Transtorno de identidade de gênero, esse transtorno consiste exatamente nisso, uma pessoa nasce com o corpo de um determinado gênero, mas ela se vê como sendo do outro gênero, entendeu?

— Sim, entendi, então quer dizer que existem mais pessoas assim como eu?

— Sim, existem, sim.

Neste momento senti uma vontade de chorar que eu nunca senti, era alegria, confusão, alívio, sei lá, um turbilhão de sensações, nos abraçamos e me preparei para ir á escola.

— Quando cheguei em casa havia um pacote e um carta dos meus pais sobre a minha cama.

“Querido filho, quando estávamos "grávidos" de você, queríamos muito que você fosse um menino, quando soubemos que você o era ficamos radiantes, seu pai até chorou você acredita? E rapidinho você nasceu, foi muita emoção para nós, seus avós choraram eles estavam muito emocionados, afinal de contas você era o primeiro neto de todos eles.

E você foi crescendo, uma criança inteligente, e muito esperta, porém o seu pai e eu já observávamos que o seu comportamento era diferente em relação aos meninos da sua idade, você não gostava das brincadeiras típicas de meninos, você sempre estava envolvido nas brincadeiras femininas, achamos que seria uma fase, mas essa fase não passava, você sempre queria comprar roupas femininas e muitas vezes se recusava a vestir as roupinhas que eu comprava para você. Conversava com seu pai e ele dizia que isso iria passar, mas você continuava a usar a minhas maquiagens e meus sapatos para brincar.

Mas eu só percebi que o assunto era sério quando você enviou aquela cartinha para o Papai Noel pedindo para ele levar o seu pênis embora e trazer uma vagina igual a da Amora, filho você tinha só 6 anos e já sofria tanto.

O tempo foi passando e fui percebendo que as demonstrações do gênero oposto foram diminuindo, mas ai que eu me enganei, você só havia aprendido a se esconder melhor.

Esse tempo todo venho conversando com a mãe da Amora a seu respeito e com o seu pai também, você sabia que o seu pai começou a ser consultado com a mãe da Amora? Foi muito difícil para ele quando a mãe da sua amiga nos chamou no seu consultório para dizer que possivelmente você teria o Transtorno de Identidade de Gênero, seu pai ficou em choque e eu também.

Mas isso já faz um ano e só agora nós resolvemos te chamar para a conversa que tivemos hoje cedo, e gostaríamos que você soubesse que nosso amor por você nunca diminuiu só aumenta cada dia mais, não estamos bravos com você, pelo contrário temos orgulho da criança que você é, já procuramos um psiquiatra que trata crianças com esse mesmo transtorno que você e nos mês que vem iremos a uma consulta no consultório dele, no Hospital das Clínicas, nós três, você, seu pai e eu, vamos passar por essa juntos.

Te amamos e iremos te amar para sempre e sempre.

Papai e Mamãe”

Chorei muito depois que li o que minha mãe escreveu, terminei a carta, e vi tinha um presente para mim, quando abri a caixa ela estava lá, linda e com glitter, a sapatilha igualzinha a da Amora, só que um número maior, é claro!

Eu sei que não será fácil, mas eu tenho os melhores parceiros para enfrentar isso, meus pais, que me amam como eu sou e isso é o mais importante.

Eu sou o Cairo? Não, eu nunca fui o Cairo, nasci uma menina presa no corpo de menino, mas um dia, sei que serei a Cléo que tanto sonho em ser.

Andréia Dalton Lucas

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