Nathalia Lima Pires (Natitta) – Atriz, performer, poetisa, mulher preta e bruxa. Arte-educadora licenciada em Teatro pela Faculdade Paulista de Artes (FPA) e bacharel em Letras pela Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Atua como professora de artes, teatro e literatura em duas instituições particulares de ensino formal. Atuou também como coprodutora da Casa do Teatro Documentário. Participou da edição 2020 do Programa de Iniciação Artística da Prefeitura de São Paulo, produzindo conteúdo a partir da mitologia dos Orixás e de perspectiva pedagógica anti-racista. Recentemente participou como atriz das encenações/ações artísticas: “Cômodo Sala” com Cia Teatro Documentário; “Meu Corpo Cansou Richard Wagner com FPA e da intervenção artística “Arena: poéticas da resistência” na ocupação “Arena contra AI-5” realizado pelo Coletivo Ato de Resistência no Teatro Arena em outubro de 2019 com o ato performativo “Corpos-livros”.
Texto cedido por Natitta
Ele diz:
Vaidosa
Egoísta
Individualista
Qualquer nega na rua dá mais afeto que você
Qualquer puta na rua é mais quente que você
Frígida
Atriz
Não do jeito bom
Do jeito
Dissimulada
Cínica
Eu sou o único que vai te querer
O único capaz de te suportar
Você nem é bonita
Mas porque sou bom
Posso ver algo em você
Te transformar
Te fazer alguém melhor
Te fazer mulher
Porque você nem é mulher
E se for...
É do tipo ordinária
Nem boa na mesa
Nem boa na cama
E bato sua cabeça contra a porta
Coloco minhas mãos no seu pescoço e te sufoco
Com as mãos
E com toda a minha existência
Eu te esmago
Estouro seus miolos com meus verbos densos e hostis
E cuspo em você como eu cuspo no chão da rua
Até você ficar no limiar da loucura
Não
Até você ficar completamente na loucura
E frágil
A ponto que eu possa dominar você
Como um capitalista que sou
Injetando veneno na sua carne
Seu corpo cresce mas não existe vida
Só existe eu
Mas como eu sou incapaz de conviver comigo mesmo
Eu também culpo você por isso
Ela sente:
O corpo paralisado
O coração não existe
A mente perdida tenta encontrar pensamentos pra se agarrar
Avança
Mas retrocede também
Não existe mais ele externamente
Mas ele ainda está lá internamente
Como um reprodutor de áudio
Sempre nas mesmas palavras
Que água e sabão não podem remover
Caminha
Vê flores mas não as toca
Sente o sol
Mas não se aquece
Quer sentir embora não sinta
Sente mas não se permite
Mas continua com os pés firme numa estrada
Com lágrimas invisíveis pois a matéria secou
Tanto quanto andar é uma ação vazia
Pois o corpo não quer reagir...
Na clareira tem um indígena
E tem uma velha Jaci
Senta lá e respira
Bebe água
Olha o fogo
Uma sombra
Mil sombras
Entre elas um amor
Que desperta a memória
E a lembrança é de dor
De ontem
De hoje
Mescladas
Descobre o trajeto dos nós apertados
Foge
Mas continua sentada no mesmo lugar
Quer poder amar
Só não pode
Ela diz:
Se chover...
E eu colocar meus pés na lama de vez
Se eu tocar a dor
E gritar até tudo ruir com o som do meu estado de demônio
O que pode acontecer?
Mais de mil mulheres surgem ao seu redor
Dentre bruxas, Deusas e Lilith's
Todas
Inclusive sua mãe e sua avó
parecem compartilhar do mesmo destino sádico dos homens
A sina de "incompreender" o amor
Eles por ignorância
Elas por medo
Só que neste luar
Elas e ela se tornam a mesma mulher em busca de justiça!
Ela finalmente ama
Texto cedido por Natitta